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Por Raquel Carneiro

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Cultura

Como vencer a Palma de Ouro em Cannes se tornou maldição para brasileiro 723r5u

Brasil volta a competir no evento francês com 'O Agente Secreto', de Kleber Mendonça Filho — filme que pode quebrar jejum de mais de 60 anos q6n53

Por Thiago Gelli SEGUIR SEGUINDO 18 Maio 2025, 10h00

Anselmo Duarte com a Palma de Ouro em 1962 (Gilbert TOURTE/Gamma-Rapho/Getty Images)

Neste domingo, 18 de maio, mais um filme brasileiro entra para a história da competição principal do Festival de Cannes, que seleciona representantes do alto escalão do cinema mundial desde 1946. Estrelado por Wagner Moura e dirigido por Kleber Mendonça Filho, O Agente Secreto compete pela Palma de Ouro com nomes emblemáticos da contemporaneidade como Wes Anderson, Richard Linklater, Ari Aster, Julia Ducournau e Kelly Reichardt — e, a depender do júri que decide os prêmios, pode ser o primeiro título brasileiro em 63 anos a conquistar o troféu máximo.

O momento de glória só foi concedido ao país uma vez, em 1962, quando Anselmo Duarte levou a Palma para casa por O Pagador de Promessas. Disponível nos streamings Globoplay e Telecine, o drama é baseado na peça homônima de Dias Gomes e retrata o calvário de Zé (Leonardo Villar). Afligido pela saúde decadente do burro que é também seu melhor amigo, Nicolau, o pequeno agricultor baiano faz uma promessa a uma mãe de santo: caso o animal seja curado, ele dividirá a terra que tem com os mais pobres e carregará uma cruz até a Igreja de Santa Bárbara, em Salvador. O longa brasileiro desbancou mestres como Sidney Lumet, Robert Bresson, Luis Buñuel e Agnès Varda. No júri, estavam outras lendas do cinema como François Truffaut.

Apesar de toda a pompa, a láurea teve efeito agridoce para Anselmo Duarte, que chegou à chamá-la de “maldição” em 1997. “Em qualquer país, o cineasta que ganha a Palma de Ouro é festejado. Aqui, não. Ganhar a Palma de Ouro, para mim, foi uma maldição, pois despertou a inveja dos meus colegas, principalmente os do cinema novo. Disseram que eu era quadrado e analfabeto, e tentaram diminuir minha vitória insinuando que ganhei porque namorava a Christiane de Rochefort, assessora de imprensa do festival”, contou à Folha na época. O Pagador de Promessas também foi o primeiro filme sul-americano a ser indicado ao Oscar.

Anselmo morreu aos 89 anos em 2009 devido a complicações de um acidente vascular cerebral. Após sua morte, a Palma original ficou perdida por anos, até ser encontrada dentro de um cofre em Salto, sua cidade natal, em 2022. Uma réplica do troféu está exposta dentro do Centro de Educação e Cultura que leva o nome do cineasta. Apesar de ser uma cópia, a estatueta preserva um detalhe do prêmio original: os dedos quebrados, que assim ficaram após Duarte derrubá-lo.

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O histórico brasileiro em Cannes y6c1i

Ao todo, 41 filmes já integraram a seleção oficial do festival. O primeiro foi Sertão, de João G. Martin, em 1949. Para além do troféu principal, já foram premiadas as atrizes Fernanda Torres em 1986 (Eu Sei que Vou Te Amar, de Arnaldo Jabor) e Sandra Corveloni em 2008 (Linha de e, de Walter Salles e Daniela Thomas). Em 1969, Glauber Rocha conquistou o troféu de melhor diretor por O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro e, em 2019, Bacurau recebeu o Prêmio do Júri.