Quem sai com olho roxo da briga? Elon Musk, o primeiro a recuar z6h1o
Foi péssimo para ele e para Trump, mas é o homem mais rico do mundo que teve mais a perder e sentiu o peso da ira dos militantes trumpistas 193h59

Foi a maior ruptura entre dois simpatizantes da mesma causa desde que Trotsky e Stálin dividiram o mundo comunista, no célebre confronto que terminou com uma picaretada na cabeça do primeiro, por ordem do segundo. No mundo democrático, felizmente, os golpes são verbais e nem Elon Musk pode se sentir livre para falar o que quiser, principalmente quando envolve insinuações crimes.
As ações da Tesla desabaram, o mundo da direita teve uma certa hesitação, mas terminou se alinhado com Donald Trump, e Musk acabou apagando o texto em que associava o presidente ao criminoso sexual Jeffrey Epstein.
Trump saiu ganhando. Quem se arriscar, a partir do titânico confronto da semana ada, a criticar o excesso de gastos do governo, corre o risco de ser exilado para a turma de Musk. Um debate não só legítimo, como importante para o país, foi tragado por declarações e postagens completamente desproporcionais.
Elon Musk, que havia se transformado em herói da direita e vilão da esquerda, nesse mundo sem nuances em que vivemos, foi o primeiro a bater em público, ao criticar como uma “abominação” a lei-ônibus, o projeto orçamentário que agora vai a debate no Senado, cheio de aditivos e temas paralelos. Em inglês trumpiano, a “big beautiful law”. É possível que estivesse ainda furioso por ter sido afastado do Departamento de Eficiência Governamental, depois de uma briga com o secretário do Tesouro, Scott Besset. Segundo o Washington Post, a briga não foi apenas verbal, como já se sabia, mas envolveu altercação física. Musk saiu dela com um olho roxo metafórico ao disseminar a impressão de que havia ido longe demais.
TRAGAM A PIPOCA 5s5l4s
A partir daí, a coisa degringolou, com a esquerda colocada na confortável posição de pedir pipoca e assistir de camarote o confronto entre as duas figuras que mais detesta no planeta. Qualquer conservador fiscal que conteste o projeto e seus efeitos sobre uma dívida já na casa dos 37 trilhões de dólares estará pisando em campo minado.
Também perde força o projeto de cortes que Musk encabeçou – e do qual o presidente o tirou, a princípio benignamente, com elogios mútuos, embora já longe do tempo em que o bilionário declarou “amar Trump tanto quanto é possível a um homem hétero”.
Musk também foi prejudicado pela impressão de que estava agindo em causa própria porque o projeto orçamentário elimina o subsídio fiscal de sete mil dólares aos carros elétricos, um incentivo da era Biden. Não ajudou ter dito que o benefício poderia continuar de fora, contanto que houvesse outros cortes de gastos. A primeira impressão é a que, geralmente, fica.
E como ficam os 217 milhões de seguidores de Musk no X e os simpatizantes de suas ideias libertárias e visionárias? Por enquanto, órfãos. Trump não é nenhum adepto dessa tendência, ao contrário, mas a alternativa a ele, do ponto de vista libertário, é muito pior.
“Não estou pensando em Elon Musk. Desejo o melhor para ele”, desconversou Trump na sexta-feira, ao dar o primeiro o para baixar o tom incendiário das acusações mútuas. No sábado, Musk tirou do ar a postagem em que dizia que Trump “aparece” nos arquivos sobre Epstein, uma óbvia insinuação de cumplicidade em abusos sexuais. Os dois podem não fazer as pazes, mas, no momento, não estão em guerra.
DISPUTA POR TERRITÓRIO 6k5431
Segundo duas fontes do governo ouvidas pelo New York Times, Trump atribuiu, em particular, o comportamento cheio de excessos de Musk ao uso de drogas – o fato de que isso tenha sido vazado já mostra como os ânimos se acirraram. A reportagem menciona anônimos com conhecimento de causa que atribuem um dos focos da crise a um confronto entre Musk e Sergio Gor, assessor muito próximo de Trump, responsável por coordenar as contratações e nomeações para cargos no governo. A Gor, nascido em Malta e naturalizado americano, é atribuída a retirada da indicação de Jared Isaacman para a chefia da Nasa, por recomendação de Musk.
Será que no fim foi o motivo de sempre – disputa por territórios políticos – que tirou Musk do governo e provocou a chamada guerra nuclear entre ele e Trump? Isaacman – bilionário, piloto e astronauta – tinha dado dinheiro a campanhas democratas, embora Musk o defendesse como “realmente competente”.
No mundo em que Musk entrou, meio desavisado, isso não é garantia de nada. Às vezes, é até contraindicado.