Série ‘Chespirito’ faz balanço do legado de Roberto Bolaños 5b5h6x
História do criador do Chaves é retratada de forma romantizada — mas sem ignorar as polêmicas de bastidores 6d1q1b

Um palhaço de circo desafia um menino da plateia a equilibrar uma vassoura na palma da mão. Ele realiza a tarefa com destreza e, em seguida, abre os braços, acertando a barriga do saltimbanco. “Foi sem querer querendo”, diz o pequeno Roberto Gómez Bolaños, redobrando as gargalhadas ao redor. Como recompensa, ele ganha o chapéu flanelado com protetores de orelha que, em 1972, se tornou figurino do incontornável personagem Chaves. A cena que abre a minissérie Chespirito: Sem Querer Querendo, novidade da plataforma HBO Max, com episódios semanais às quintas-feiras, dá o tom do que está por vir: ao retratar a trajetória do célebre comediante mexicano, o melodrama, por vezes piegas, é convidado de honra. Para o diretor Rodrigo Santos, a escolha é justificável. “Como não romantizar o legado de alguém que tocou 300 milhões de pessoas no mundo?”, disse ele sobre o artista, que morreu em 2014 aos 85 anos de idade.
Seria simples não fossem as várias controvérsias em torno dele, especialmente quanto ao direito autoral dos personagens. A disputa com Carlos Villagrán, o Quico, foi a mais fervorosa — em carreira solo, o ator adotou a grafia Kiko. Houve ainda romances complicados. Bolaños trocou a esposa por Florinda Meza, a Dona Florinda, que era suposta ex de Villagrán. Mesmo casada com o humorista até a morte dele, a atriz ainda tem uma relação difícil com os herdeiros.

Para evitar possíveis processos, a série produzida por Roberto Fernández, filho do ator, trocou os nomes de quem não estava alinhado com a família. Antes de cada episódio, o alerta risível: “Qualquer semelhança com pessoas ou eventos reais é pura coincidência”. Com o ator Pablo Cruz no papel do protagonista, a série pincela esses dramas e oferece uma explicação. Bolaños foi pego desprevenido pelo sucesso, raiz das intempéries entre amigos. Tímido e contido, ele alcançou o mundo quase sem querer querendo — e, assim, criou a vizinhança que ainda hoje é pura nostalgia.
Publicado em VEJA de 6 de junho de 2025, edição nº 2947