Virada na indústria: emprego recua após 18 meses
O faturamento real da indústria também encolheu 0,8% em abril, segundo a CNI

Pela primeira vez desde setembro de 2023, o emprego industrial brasileiro encolheu: houve queda de 0,4% no número de postos de trabalho do setor entre março e abril, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgados nesta sexta-feira, 6. Foram 17 meses de crescimento seguidos, mas a desaceleração finalmente bateu à porta.
Marcelo Azevedo, gerente de análise econômica da CNI, explica que o emprego vinha crescendo na indústria em resposta ao aumento da demanda de produtos industriais que puxou a produção do setor por longo período. “O emprego industrial, segundo os indicadores industriais, cresceu por 17 meses, parou de crescer no mês ado, em março de 2025, e agora mostrou queda em abril. E isso responde a essa queda de demanda, queda de produção, que a gente já vem observando nos últimos meses.”
No acumulado de janeiro a abril, o emprego industrial ainda apresenta alta de 0,7% sobre o fim do ano ado, e avança 2,6% em relação a igual período de 2024. O tom, porém, mudou. Azevedo explica que já vinha observando uma perda desse crescimento na demanda, consequentemente, na atividade industrial. “Isso já vinha se refletindo em faturamento, em horas trabalhadas, e agora a gente consegue ver isso no emprego industrial. O emprego, ele costuma reagir lentamente, mês a mês, com a atividade ou expectativa de aumento dela ou expectativa de redução da atividade.”
A decisão de reduzir ou aumentar vagas é sempre ponderada na indústria, segundo o economista da CNI. “É custoso contratar e é custoso demitir o empregado da indústria, sobretudo pela necessidade de treinamento, de qualificação, mas ainda num mercado de trabalho bastante aquecido, bastante apertado para encontrar novos trabalhadores”, diz. Por isso, uma variação mensal de 0,4, é bastante significativa numa comparação mensal, diz.
Após um período de estabilidade, o movimento começa a se consolidar. Há, de fato, uma expectativa de redução de ritmo nesse mercado de trabalho, que veio crescendo bastante forte nos últimos anos, segundo ele. “Já é um mês que teve uma estabilidade, mas, sim, agora é um segundo mês com queda em abril. Então já dá para se cristalizar de uma forma maior essa desaceleração”, diz. Mas é preciso guardar os próximos meses para verificar se a trajetória é de queda ou de uma acomodação, ou seja, manutenção nesse patamar elevado de emprego.
Outros números divulgados pela CNI confirmam o diagnóstico de esfriamento. O faturamento real da indústria encolheu 0,8% em abril – segunda queda mensal consecutiva – e a utilização da capacidade instalada (UCI) recuou 0,6 ponto percentual, para 77,9%. “A queda da capacidade instalada é mais um indicador dessa desaceleração da indústria que a gente já conseguia ver tanto em faturamento quanto em horas trabalhadas”, diz Azevedo.
Já a massa salarial real subiu 4,4% em abril e o rendimento médio dos trabalhadores avançou 5% – resultado que reverte parte das quedas dos meses anteriores. Azevedo chama atenção para a influência dos programas de participação nos resultados (PPRs). “Nesses últimos meses, a gente está tendo uma movimentação muito grande dos PPRs, das participações dos resultados das empresas. Algumas antecipando e outras adiando esses movimentos e isso vem trazendo bastante oscilação para tanto a massa de rendimentos quanto para o próprio rendimento recebido pelo trabalhador, mesmo numa trajetória que estava bastante estável do emprego nos últimos meses. Agora, o que a gente viu nesse mês de abril foi uma recomposição tanto da massa de rendimentos quanto do rendimento médio do trabalhador da indústria, após quedas sucessivas nos últimos meses.” As horas trabalhadas na produção caíram 0,3% em abril, praticamente estáveis em relação a março, e acumulam alta de 0,9% no ano.